Hoje eu falei um oi pro céu, senti que estava feliz, me perguntei : porque não? Persuadi minha mente a fim de esquecer o mundo, esquecer de tudo que eu tenho que pensar , deixar que a vida me leve por um dia. Poder reparar o movimento que os pássaros fazem quando voam , fugindo da chuva. Não precisa fazer sol pra se permitir sorrir. E que chuva! Corri nela, pulei no ar e me senti mergulhada. Foi como lavar a alma com lágrimas de quando se está sorrindo demais com um amigo. Eu rodopiei até perder a noção de espaço, e acabei deitada na grama molhada , de braços abertos, olhos fechados , meio incomodada com as gotas de chuva nos meus óculos, mas tudo bem, não queria que a chuva se desviasse dos seus óculos né menina!? Sorri boba com meu pensamento , não seria má ideia .
A natureza é tão ... linda, a vida é linda. E vale a pena lutar por ela, lutar por poder respirar , sonhar , e lutar pelos sonhos, amar e fazer com que o destino exista. Não vale a pena viver e não querer sentir a vida. E a vida ... só a palavra já me enche o coração de risos, a vida é cada um , cada pedacinho de mundo é vida. Se você tem um pedacinho de mundo, por menor que seja, você tem uma vida.
Já estava toda ensopada quando cheguei em casa. Não tive senso ao abraçar minha mãe , ensopando-a também . Resultado? Ela estava fazendo bolo, e começou a me jogar farinha , sem se importar com a sujeira . E quanto a mim? Sai correndo antes que viessem os ovos. Rumo ao banho , claro.
Resolvi, nesse dia, agradecer ás pessoas que fizeram parte da minha vida , sim , todo mundo ( na verdade quase todo mundo, porque todo mundo é meio difícil né!?) . Mas foi meio assim:
Oi , sei que não sou de muitas palavras, ás vezes nem conversamos, na verdade, deve ter um tempo que não conversamos. O motivo? Bem, acho que me esqueci de dizer "tchau", então ficou difícil dizer "oi tudo bem?" . Na verdade, nunca quis fazer drama, nunca quis fazer com que chorassem, fazer com que sofressem comigo. Por quê? Porque eu amo todos vocês, mesmo distante, mesmo sendo marcada como fria, eu amo , e a definição mais próxima de amor que eu conheço, é cuidar. Definitivamente, não imaginaria vocês todos, tendo que largar as noites de baladas, copos com bebidas misturadas a fim de ficarem mais suscetíveis á conversar com aquela menina bonita ou aquele rapaz que deu uma piscadela no incio da festa. Não queria ver vocês todos chorando, ao invés de estarem nessas festas , curtindo , a vida.
Por obra do nosso mágico destino, eu fiquei um bom tempo sem sair da cama, vendo gente de branco o dia todo. Confesso que tinha um pedaço do mundo na janela, podia sentir o céu me dando forças. Como se a doença estivesse no corpo errado, como se eu tivesse muita coisa pra fazer, e muita coisa pra estragar ainda. Eu sempre gostei de espelhos, do meu sorriso, gostava de fazer penteados, ir ao salão, fazer as unhas, bem , todas essas coisas que "gente normal" faz . O que dizer ? A dor do tratamento corroía as veias do meu corpo , doía sobreviver . Ás vezes eu ficava sozinha, minha mãe não podia ficar o tempo todo. Eu e toda aquela dor. Me passava pela cabeça desistir , cerca de 10 em cada 9 frases que eu pensava. Dava pra ver meus ossos competindo com a pele.
É engraçado , costumava me achar gorda, fazia dietas surreais pra emagrecer, vocês sabem. Costumava me achar feia, quando dormia pouco , ou quando estava gripada . Mas o que falar de mim , naquele momento? Eu me sentia aterrorizada em viver daquela forma, doente. Eu transbordava a doença. E o pior? Ninguém me dizia que eu estava melhorando, não, apenas : "continue com o tratamento, querida".
Teve uma época que eu nem era mais humana , era quase uma máquina com todos aqueles aparelhos me ajudando a respirar , controlando meu corpo . Tinha dias que eu sentia que tinha que poupar lágrimas, pra não morrer . O céu nem fazia mais sentido nesses dias, eu me sentia um peso .